Educação e trabalho ajudam na ressocialização de apenadas em Sergipe

Pessoas que participam das atividades laborativas, culturais e educacionais ofertadas nas unidades geridas pela Sejuc têm reincidência próxima a zero

Este ano, 30 internas do Presídio Feminino de Sergipe (Prefem), em Nossa Senhora do Socorro, realizaram a prova do Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL). Se aprovadas, elas terão a oportunidade de ter acesso ao ensino superior. Nesses casos, a modalidade das aulas é definida pelo juiz, mas geralmente é por meio da Educação à Distância (EaD).

Mais que a oportunidade de cursar uma universidade, as provas oferecem às internas a possibilidade de voltarem a sonhar com uma vida diferente após o cumprimento da pena. “Quando a gente entra aqui, tem muito tempo para pensar, e assim um sonho do passado pode vir para o presente, para quando sair daqui pensar em realizar. E meu sonho é ser advogada, até porque, aqui dentro, vejo como quem está preso fica feliz quando sabe que vai sair, e quem ajuda nisso é o advogado. Quero ajudar as pessoas e acho que fiz uma boa prova. Quando eu sair daqui, minha vida vai ser totalmente diferente”, revelou a apenada A.M., 47, que aguarda o resultado do Enem.

A interna T.R.B., 33, explicou que a prova foi importante para testar novos conhecimentos, já que não conseguiu concluir os estudos no tempo regular. “Se eu passar no Enem, pensei em fazer Arquitetura, Psicologia ou Assistência Social. Deixei os estudos de lado porque me casei cedo, tive filhos e, depois, fiz escolhas erradas, mas nunca é tarde para recomeçar”, disse a jovem, que também concluiu o ensino médio dentro da unidade, por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA), ofertada pelas secretarias de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura (Seduc) e da Justiça e Defesa do Consumidor (Sejuc).

Empoderamento

No Prefem, outros projetos também buscam a ressocialização das apenadas, a exemplo do Projeto Odara, que incentiva o empoderamento das mulheres por meio do ensino de corte e costura. A interna T.R.B. também participa do projeto e foi a partir dele que passou a pensar em uma oportunidade de mudar de vida após o período de reclusão. “É a primeira vez que estou com o pensamento diferente. Agora sinto que não quero mais essa vida. O projeto Odara realmente conseguiu mudar meus pensamentos e, quando eu sair daqui, vou fazer diferente lá fora, passei a ter outro pensamento e dessa vez eu não volto mais para esse lugar. Hoje tenho perspectiva de vida, uma nova profissão, antes eu trabalhava também no salão, era cabeleireira, mas me apaixonei pela costura, pelo que estou fazendo aqui dentro”, garantiu.

Para a professora do Odara, Hortência Borges, é gratificante ver o entusiasmo das alunas com o projeto e a perspectiva de mudança de vida ofertada pela ação. “A gente faz tudo para levantar a autoestima delas e profissionalizá-las para que tenham uma perspectiva de vida diferente. Há meninas que saíram daqui e agora já estão trabalhando, costurando. Algumas estão em São Paulo trabalhando em fábrica e mandam foto e vídeo. Outras, que ensinei a fazer laços de fita para bebê e criança, que saíram do presídio e me procuraram para dizer que estão sobrevivendo vendendo os laços na praia. Isso é muito gratificante, ver que teve uma mudança, que valeu a pena, que elas não retornaram mais para o sistema e procuraram refazer a vida. Esse é o objetivo, que elas possam ter outra vida, junto com suas famílias”, destacou Hortência.

A professora revelou, ainda, que esses resultados incentivaram a ideia de um novo projeto para quando as mulheres saírem da reclusão: a criação de uma cooperativa. “Aqui elas aprendem a manusear e bordar na máquina, a costurar nas máquinas industriais, mas também ensino a diferença para a máquina doméstica, assim fica mais fácil ter uma oportunidade de emprego quando saem. Mas muitas não têm condições quando saem daqui, então fiz a proposta para, se elas quiserem realmente mudar de vida, montar uma cooperativa. E já tem algumas que querem, algumas já saíram e me procuraram. A gente ainda vai se organizar, mas nosso projeto é esse”.

Recomeço

M.A.S., 42, participa do Odara há cerca de quatro anos. Prestes a sair da unidade, é uma das internas que desejam continuar com a costura, trabalhando na cooperativa que deverá ser criada. “Devo sair próximo a junho. Aquela mulher que entrou aqui ficou para trás, esse projeto me ajudou muito a mudar de vida. A professora é ótima e ela quer ajudar quem quer mesmo trabalhar. Quero participar da cooperativa, pois não tinha uma profissão lá fora e agora tenho. Aqui, aprendi a sonhar e meu sonho é ser costureira quando sair. Não quero mais coisa errada para minha vida, porque isso só me fez afundar”, afirmou.

Segundo o diretor do Prefem, Augusto de Jesus, as pessoas que participam das atividades laborativas, culturais e educacionais ofertadas nas unidades geridas pela Sejuc têm reincidência próxima a zero. “A gente cumpre o que a legislação prevê, tem vários tipos de assistência, assistência educacional e ao trabalho. Dentro da assistência ao trabalho, a Secretaria da Justiça disponibiliza cursos profissionalizantes em parceria. Recentemente, tivemos os cursos de design de sobrancelhas e de automaquiagem para internas, o que proporciona uma melhor inserção delas no mercado de trabalho”, contou.

Além desses, acrescenta o diretor, há também cursos de serigrafia e de corte e costura, com certificado. E, em parceria com o Ministério Público de Sergipe, há ainda o Projeto Florescer, onde o MPE disponibiliza uma professora de confecção de bonecas e curso de patchwork. “Além da questão educacional, por exemplo, temos duas salas de aulas, cada uma com capacidade para 25 estudantes, proporcionando, também, a oportunidade para que possam fazer o Encceja [Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos] e o Enem”, acrescentou o gestor da unidade prisional.

Última atualização: 30 de janeiro de 2023 12:49.

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